HISTÓRIAS FLUMINENSES
UM PASSEIO EM PETRÓPOLIS
ATRAVÉS DO PORTO DA ESTRELA
Guilherme Peres
Beneficiada com a criação de diversos órgãos no
serviço público a partir de 1835, a Província do Rio de Janeiro, através de seu
primeiro presidente Joaquim José Rodrigues Torres, o visconde de Itaboraí,
estabeleceu Secretarias a fim de planejar os trabalhos de administração.
Foi,
porém, seu segundo presidente, Paulino José Soares de Souza, o visconde do
Uruguai, quem criou dentro desse contexto a Diretoria de
Obras
Públicas destinada à construção e reconstrução de caminhos e estradas,
facilitando o transporte de mercadorias para os portos de embarque e
desembarque dessa Província, principalmente o café transportado em lombo de
mulas organizadas em “tropas”, circulando em número cada vez maior.
A nova estrada designada Normal da Estrela, em 1843,
era o começo de uma outra etapa com a reconstrução do Porto da Estrela em
decorrência do início da colonização de Córrego Seco (Petrópolis). Desde então
passou a figurar nos relatórios da Diretoria das Obras Públicas em duas
referências: Estrada Velha da Estrela, e Estrada Normal da Estrela. A
publicação do edital para a concorrência de suas obras no governo de Honório
Hermeto registra no seu artigo 1º. que: “A Estrada principia no Porto da
Estrella a beira do rio Inhomirim , no lugar do atual embarque, e segue pelo
trilho da estrada atual até Paraibuna”.
Esse relatório faz referência aos trabalhos dos
imigrantes alemães chegados ao Rio de Janeiro em 1837 pelo barco francês
“Justine”, contratados pelo major Júlio Frederico Koeler, então responsável
pelas obras de recuperação da “Estrada Velha”
Iniciados os trabalhos nesse mesmo ano em ritmo
acelerado, foi dada especial atenção ao cais de desembarque do Porto da Estrela
com obras de infraestrutura, mandando demolir o telheiro pertencente ao
subdelegado Francisco Alves Machado, e denominando a praça em frente ao porto
de: Praça Santo Honório.
Segundo o “Correio Oficial da Província”, em uma
portaria assinada por Caldas Viana, assinalava: “notável incremento no
arraial da Estrela”, devido o início da “construção da Estrada Normal da
Estrella e a fundação da povoação de Petrópolis no alto da serra”, atraindo
“para esse ponto grande população”, e ordenando ao engenheiro Campo Belo
que: “levante a planta e o orçamento de um cais de pedra ou cantaria com cem
braças de extensão para ser colocado na Praça Santo Honório, do referido
arraial ao longo do rio Inhomirim, no lugar do projetado de madeira, tendo além
dele duas formosas rampas”.
No final do relatório Caldas Viana prevê a breve
transformação do arraial em Vila, recomendando que seu novo projeto de
remodelação seja abrangente “dada ao plano da futura vila, que nesse lugar,
tem necessariamente de fundar-se”.
Antevisão confirmada, pois três anos depois, mesmo sem
estar pronto o prédio para abrigar a câmara e a cadeia, a Lei Provincial de 20
de maio de 1846 elevou à Vila, o arraial da Estrela, abrangendo em seu termo as
Freguesias de Guia de Pacobaiba, Pilar, Inhomirim e o curato de Petrópolis.
O jornal “Gazeta de Petrópolis”, edição de 1840,
recomendava um passeio àquela região serrana através do novo Porto da Estrela.
O ROTEIRO
“Embarca-se no vapor que se acha todos os dias na
Praia dos Mineiros” hoje Praça
Mauá, “e costuma largar ás 11 horas. Chegado que seja ao Porto da Estrella,
costuma aí haver um onnibus o qual admite 10 pessoas. Porém muitas vezes são
tantos os passageiros que não há lugar, e por isso é bom prevenir o dono do
onnibus que mora debaixo da serra, no lugar denominado Fragoso, e chama-se o
tenente-coronel Albino José de Siqueira, para que lhe mande guardar uma ou duas
vagas no tal onnibus para tal dia” Avisava ainda o jornal, que o tal Albino
tinha condução especial para duas ou quatro pessoas caso perdessem o “onnibus”.
“Logo que chegue abaixo da Serra no lugar Fragoso, na
casa do Sr. Albino, tem que mudar de condução por causa da Serra, e, portanto,
tomará cavalgadura ou liteira, e qualquer destas conduções o dito Albino manda
aprontar”.
Chegando a Petrópolis, o jornal indica a existência de
vários hotéis: “todos bons”. Logo na entrada da Cidade tem o “chamado
de Bragança, onde se pode hospedar com toda a comodidade e asseio”. Estranho,
porém a indicação de um “sujeito” que mora “ao pé desse hotel”
chamado de Joaquim Antônio Puguete, “Pessoa aí estabelecida há muito tempo e
quando queira alguma cousa, dirigindo-se a ele será servido.”
PREÇOS
Em seguida o jornal divulga a tabela de preço dos
serviços: “O preço do vapor para a Estrela é: 1$500 – Dito do mesmo para
rapaz descalço: $500 – Dito dos onnibus da Estrella até o Fragoso: 2$000 – Dito
do sociável da Estrella até o Fragoso para 4 pessoas: 8$000 – Dito para 2
pessoas: 6$000 – Dito do animal para subir a Serra: 4$000 – Dito da liteira por
dia: 16$000 – Dito de algum preto para levar uma pequena mala: 1$000.
Ao chegar ao Fragoso, o viajante encontrará refeições,
“se mandar fazer, e cama para dormir quando ali queira ficar”.
No Porto da Estrela “A Gazeta” divulga o nome do “negociante
ali estabelecido, Martinho Alves da Silva & C., que querendo qualquer cousa
para qualquer daquelas partes, é muito capaz”.
Para evitar surpresas quanto a lotação do onnibus,“ou
mesmo para mandar vir sociável”, o Diário recomenda “escrever com
antecipação de 2 dias ao Tenente Coronel Albino, e recomendar-lhe bem para não
haver falta”.
Boa viagem!
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