26/06/2020

Um passeio em Petrópolis através do Porto da Estrela

HISTÓRIAS FLUMINENSES

UM PASSEIO EM PETRÓPOLIS

ATRAVÉS DO PORTO DA ESTRELA

                                                                                                        Guilherme Peres

Beneficiada com a criação de diversos órgãos no serviço público a partir de 1835, a Província do Rio de Janeiro, através de seu primeiro presidente Joaquim José Rodrigues Torres, o visconde de Itaboraí, estabeleceu Secretarias a fim de planejar os trabalhos de administração.

Foi, porém, seu segundo presidente, Paulino José Soares de Souza, o visconde do Uruguai, quem criou dentro desse contexto a Diretoria de

Obras Públicas destinada à construção e reconstrução de caminhos e estradas, facilitando o transporte de mercadorias para os portos de embarque e desembarque dessa Província, principalmente o café transportado em lombo de mulas organizadas em “tropas”, circulando em número cada vez maior.

A nova estrada designada Normal da Estrela, em 1843, era o começo de uma outra etapa com a reconstrução do Porto da Estrela em decorrência do início da colonização de Córrego Seco (Petrópolis). Desde então passou a figurar nos relatórios da Diretoria das Obras Públicas em duas referências: Estrada Velha da Estrela, e Estrada Normal da Estrela. A publicação do edital para a concorrência de suas obras no governo de Honório Hermeto registra no seu artigo 1º. que: “A Estrada principia no Porto da Estrella a beira do rio Inhomirim , no lugar do atual embarque, e segue pelo trilho da estrada atual até Paraibuna”.

Esse relatório faz referência aos trabalhos dos imigrantes alemães chegados ao Rio de Janeiro em 1837 pelo barco francês “Justine”, contratados pelo major Júlio Frederico Koeler, então responsável pelas obras de recuperação da “Estrada Velha”

Iniciados os trabalhos nesse mesmo ano em ritmo acelerado, foi dada especial atenção ao cais de desembarque do Porto da Estrela com obras de infraestrutura, mandando demolir o telheiro pertencente ao subdelegado Francisco Alves Machado, e denominando a praça em frente ao porto de: Praça Santo Honório.

Segundo o “Correio Oficial da Província”, em uma portaria assinada por Caldas Viana, assinalava: “notável incremento no arraial da Estrela”, devido o início da “construção da Estrada Normal da Estrella e a fundação da povoação de Petrópolis no alto da serra”, atraindo “para esse ponto grande população”, e ordenando ao engenheiro Campo Belo que: “levante a planta e o orçamento de um cais de pedra ou cantaria com cem braças de extensão para ser colocado na Praça Santo Honório, do referido arraial ao longo do rio Inhomirim, no lugar do projetado de madeira, tendo além dele duas formosas rampas”.

No final do relatório Caldas Viana prevê a breve transformação do arraial em Vila, recomendando que seu novo projeto de remodelação seja abrangente “dada ao plano da futura vila, que nesse lugar, tem necessariamente de fundar-se”.

Antevisão confirmada, pois três anos depois, mesmo sem estar pronto o prédio para abrigar a câmara e a cadeia, a Lei Provincial de 20 de maio de 1846 elevou à Vila, o arraial da Estrela, abrangendo em seu termo as Freguesias de Guia de Pacobaiba, Pilar, Inhomirim e o curato de Petrópolis.

O jornal “Gazeta de Petrópolis”, edição de 1840, recomendava um passeio àquela região serrana através do novo Porto da Estrela.

 

O ROTEIRO

“Embarca-se no vapor que se acha todos os dias na Praia dos Mineiros” hoje Praça Mauá, “e costuma largar ás 11 horas. Chegado que seja ao Porto da Estrella, costuma aí haver um onnibus o qual admite 10 pessoas. Porém muitas vezes são tantos os passageiros que não há lugar, e por isso é bom prevenir o dono do onnibus que mora debaixo da serra, no lugar denominado Fragoso, e chama-se o tenente-coronel Albino José de Siqueira, para que lhe mande guardar uma ou duas vagas no tal onnibus para tal dia” Avisava ainda o jornal, que o tal Albino tinha condução especial para duas ou quatro pessoas caso perdessem o “onnibus”.

“Logo que chegue abaixo da Serra no lugar Fragoso, na casa do Sr. Albino, tem que mudar de condução por causa da Serra, e, portanto, tomará cavalgadura ou liteira, e qualquer destas conduções o dito Albino manda aprontar”.

Chegando a Petrópolis, o jornal indica a existência de vários hotéis: “todos bons”. Logo na entrada da Cidade tem o “chamado de Bragança, onde se pode hospedar com toda a comodidade e asseio”. Estranho, porém a indicação de um “sujeito” que mora “ao pé desse hotel” chamado de Joaquim Antônio Puguete, “Pessoa aí estabelecida há muito tempo e quando queira alguma cousa, dirigindo-se a ele será servido.”

 

 

PREÇOS

Em seguida o jornal divulga a tabela de preço dos serviços: “O preço do vapor para a Estrela é: 1$500 – Dito do mesmo para rapaz descalço: $500 – Dito dos onnibus da Estrella até o Fragoso: 2$000 – Dito do sociável da Estrella até o Fragoso para 4 pessoas: 8$000 – Dito para 2 pessoas: 6$000 – Dito do animal para subir a Serra: 4$000 – Dito da liteira por dia: 16$000 – Dito de algum preto para levar uma pequena mala: 1$000.

Ao chegar ao Fragoso, o viajante encontrará refeições, “se mandar fazer, e cama para dormir quando ali queira ficar”.

No Porto da Estrela “A Gazeta” divulga o nome do “negociante ali estabelecido, Martinho Alves da Silva & C., que querendo qualquer cousa para qualquer daquelas partes, é muito capaz”.

Para evitar surpresas quanto a lotação do onnibus,“ou mesmo para mandar vir sociável”, o Diário recomenda “escrever com antecipação de 2 dias ao Tenente Coronel Albino, e recomendar-lhe bem para não haver falta”.

                                                                                                               Boa viagem!


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